Na realidade, e enquanto profissional da área do desporto, e especificamente do futebol, não consigo ficar indiferente a alguns comentários que vejo pelo blog.
A pressão que se coloca em cima de crianças de 12 anos é algo que me assusta, algo que me deixa antever dificuldades profissionais, uma vez que percebo que todo o nosso trabalho ao nível dos constrangimentos de tarefa, sujeito, social e envolvimento, se diluem por falta de sintonia no que diz respeito a valores de ensino e a orientações pedagógicas.
O discurso dos nossos treinadores, desenvolve-se essencialmente pela cientificidade do planeamento que elaboramos diariamente para a heterogeneidade dos diferentes grupos com que trabalhamos, aquele trabalho escondido que mais ninguém precisa de conhecer, mas que todos devem superficialmente entender, para que, em sintonia, possamos desenvolver um trabalho rico em valores e pobre em espectáculo.
O mediatismo desportivo, enquadra-se perfeita mente na sociedade de espectáculo em que vivemos, no entanto, e entenda-se este fenómeno apenas e exclusivamente ao desporto de massas de alto rendimento...e nunca ao desporto (futebol neste caso específico) de formação.
Criar estruturas de opinião não controlada para crianças de 10/11/12 anos de idade, é criar condicionalismos mentais no que diz respeito à importância dos valores de ensino/aprendizagem destes jovens, é criar enquadramentos com ícones desvalorizados por um mercado que tudo controla.
Devemos sempre criar percepções reais aos nossos atletas, filhos... mas temos igualmente o papel de tentar valorizar certos e determinados valores em detrimento de outros. Coisas simples, que se denominam por currículo oculto, "como desligar a água enquanto se esfrega a cabeça e o corpo com shampoo e sabão"... coisas que são realmente importantes e que condicionam positivamente a racionalidade que existe em todos nós.
Valores como a competitividade, a agressividade, o orgulho, a humildade, o espírito de sacrifício...são valores de discurso para os mais velhos, eu gosto de acreditar que, para os mais novos, são recursos de reforço para exercícios bem elaborados e pensados por pessoas que conhecem o que fazem e confiam nas suas competências.
Passo a dar um exemplo:
No passado fim-de-semana, a equipa que oriento teve uma volumosa vitória por 13-1. O espírito de invencibilidade sentia-se em cada menino, os valores que sempre foram colocados nos exercícios pareciam esquecidos, por uma sede de reconhecimento do valor que sentiam ter. "Tragam o material para cima" disse eu, e as bolas ficam esquecidas junto ao banco," quero todos no banho em 5 minutos" disse eu novamente, e passados 10 ainda se encontravam com roupa de jogo em plena galhofa o balneário…, queriam saborear o momento...o que é perfeitamente normal... mas. E os valores? Onde ficou a responsabilidade de trazer o material e o respeito ao treinador e às suas palavras... ficou certamente diluído nos 13-1 que acabavam de conseguir...
Ora, se os níveis de auto-estima eram consideravelmente altos, algo teria de fazer para os reduzir e enquadra-los novamente com a realidade que não é certamente os 13-1. Nada melhor do que escolher um adversário forte e igualmente bem organizado, criando durante o próprio jogo, condições de insucesso, sem as focar, mas apenas que elas focassem os objectivos que tínhamos, ou seja, voltar à realidade...
Ora se aquilo que pretendemos é efectivamente oferecer reais desafios, face às competências dos atletas, então certamente que passar à 2ª fase irá enquadrar nos desafios propostos para os InfA, no entanto, devemos sempre entender que o sucesso de 1ª/2ª ou 3ª fase é imediato, mas o sucesso que pretendemos atingir é intemporal...
Para me despedir, deixo aquela que é uma frase que me faz acreditar no trabalho que desenvolvemos.
" Jamais me conseguirei lembrar da minha nota no primeiro teste de matemática, mas nunca me esqueci da matéria que me foi ensinada..."
Abraço e continuação de um bom blog para si JPF e a todos os que no acompanham…
Tiago Coelho
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quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Comentário «Mister Tiago»: ("A pressão em crianças de 12 anos é algo que me assusta!")
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Não posso deixar a oportunidade de manifestar aqui os meus mais sinceros e sentidos PARABÉNS ao trabalho desenvolvido e á filosofia aplicada pela Escola de Futebol Geração Benfica de Almada.
ResponderEliminarÉ essa filosofia e postura perante os nossos atletas, previligiando o seu desenvolvimento independentemente dos resultados dos jogos, pois não importa o resultado de um jogo, o importante será sempre o desenvolvimento do atleta a longo prazo.
Então faço uma pergunta:
é pedagógico, e justo para crianças de 11 anos, que fiquem sentados no banco um jogo inteiro e só sejam chamados para jogar a 10 minutos antes do jogo acabar?
Isto aconteceu hoje no jogo dos Infantis B...um plantel que só tinha 4 meninos no banco...a primeira substituição, foi 10m antes de acabar, de um lateral, segui-se outra de um defesa e, o que para mim foi mais ridiculo, foi quando foi substituido o avançado que esteve 3m em campo e que quando foi marcado um canto, o treinador o chamou de volta para o substituir novamente pelo anterior colega, para que esse fosse marcar o canto...mas ninguem em campo podia marcar!!!
Pergunto-me como se sentem hoje essas crainças? Parte de uma equipa? ou a equipa só será os 7 que estiveram em campo? foram premiados os que mais se esforçaram nos treinos???
Onde está a filosofia praticada por esta Escola de Futebol? ou só é praticada nos treinos?
Talvez nos Infantis B o mais importante seja os jogos na vertente dos resultados, e não o desenvolvimento de todos os jogadores porque só quem tem oportunidade de jogar poderá aplicar o que aprendeu nos treinos!
Saudações