As vitórias e derrotas, o gozo e a frustração, o prazer de ver bom futebol, e a saúde dos nossos filhos

A competitividade

Entre os vários agentes desta realidade que é o futebol infantil, há sempre um factor que nos motiva, que nos emociona, que nos entristece... O resultado da competição.

O ser humano é por natureza competitivo, foram os primeiros humanos mais competitivos que venceram todas as contrariedades da natureza para chegarmos ao Homo Sapiens que hoje somos...

A vida é feita de competitividade, na escola, no acesso à universidade (só entram os melhores) no acesso ao emprego, no acesso aos melhores cargos profissionais... em tudo na vida há competitividade.
Até na adolescência, na disputa das amizades, das namoradas... das melhores notas.
E na creche... ainda sem saber andar, o mais afoito saca os melhores brinquedos...

A competitividade faz parte da vida, e temos de saber lidar com ela, saber balizá-la dentro dos parâmetros que cada um de nós define.

Quem é que (falo dos pais) ainda não teve um momento profissional em que se sentiu ultrapassado por um colega que usou de trunfos eticamente reprováveis para nos passar à frente?

É da vida!

Os resultados

Querer ganhar é normal, faz parte da natureza humana.
Eu também sou daqueles que detesto perder, como se diz na gíria, «nem que seja a feijões». Detesto! Em tudo o que me meto gosto de ganhar. E não vejo nisso nenhum problema. Para mim esse desafio é um teste individual às minhas capacidades. Quero ser sempre melhor, de dia para dia...  E quem não quer? Seja a jogar ténis de mesa, num jogo de futebol, no monopólio, nos matraquilhos, em tudo meto a concentração máxima e quero ganhar! Às vezes irrita-me estar numa competição e perceber que o adversário está a brincar... que não está a dar o seu máximo. Quando o percebo, para mim acabou o jogo... deixa de fazer sentido!  A essência da competição é cada um tentar o seu melhor... e o resultado é o que tiver de ser. «Sou melhor que tu nisto... tu és melhor que eu naquilo!»

A grande questão está no momento seguinte.

Saber ganhar e saber perder!

Aqui é que está, a meu ver,  toda a sabedoria.
E aqui é que muitos de nós falhamos.
Temos de saber perder... Temos de saber reconhecer quando os outros são melhores que nós.

Por isso, talvez notem que quando perdemos (refiro-me agora à nossa equipa) deixo sempre uma nota, não nos podemos queixar de terceiros, a responsabilidade é só nossa. Não fizemos o nosso melhor. Ou se fizemos o melhor (eu acho que não!), os outros ainda eram melhores que nós...

O discurso dos árbitros, que a culpa é sempre dos árbitros, para mim é um sinal de fraqueza, pior, de não assumpção das nossas falhas. Temos de saber aceitar que falhamos.
Faz-me lembrar os tempos de escola, aqueles miúdos que têm negativas "por causa da professora"...

Nunca é por causa da professora. É por nossa causa. Fomos nós que falhámos. Não gostamos da professora? Pois, mas temos de nos adaptar à aprendizagem que ela quer que tenhamos... Foi a professora que nos calhou, não adianta dar a volta ao texto... é mesmo assim!

É como os árbitros. Há dos bons, há dos maus, e há os que cometem erros... mas quantos erros não cometemos nós também? Erros individuais, de cada jogador per si, que falhou um passe, que decidiu mal, que rematou torto, que não passou a bola quando devia... erros da equipa técnica, que não avisou os jogadores que deveriam ter mais cuidado na situação «X», que deviam acautelar a situação «Y»...  que colocou os jogadores na posição errada, que fez mal as substituições... os erros dos pais, que gritam para dentro de campo e perturbam os miúdos, que enervam os árbitros e prejudicam a equipa... Todos nós cometemos erros e os árbitros é que tinham de ser sobre-humanos? é absurdo. Também erram obviamente!

O futebol é um desporto em que o erro é a regra. A excepção é quando tudo corre bem, e a bola entra na baliza, porque tudo foi feito na perfeição.

Todos nós, os agentes desta comunidade desportiva constituída por jogadores, técnicos, dirigentes e pais  temos de saber lidar com a derrota.

Se perdemos, é porque o adversário foi melhor.

Aquele momento final em que os miúdos se cumprimentam não é apenas um formalismo que alguém inventou. Aquele é o momento crucial. O momento em que os jogadores dão como terminada a competição e devem cumprimentar o adversário e admitir, nas suas cabeças: «Olha, parabéns, vocês ganharam porque foram melhores que nós». OU, o contrário, com humildade: «Parabéns, vocês perderam, mas tiveram momentos muitos bons, gostei do vosso desempenho, parabéns».

Este é o momento da conciliação... com o adversário e connosco.

Não há ali espaço a rancores, a má-criação, a asneiras, a insultos.
Acabou o jogo, foi o que foi, não há espaço para desculpas, para choros, para frustrações. Agora é preciso treinar mais uma semana para sermos melhores na próxima competição.

Este seria o espírito saudável da competição.
Nos 60 minutos damos o máximo que temos, somos o mais competitivos que conseguimos, dentro das regras e sem truques, sem malícias, sem jogo manhoso de atirar a bola para longe... sem alguns truques que infelizmente vemos em algumas equipas...

Uma criança que seja orientada dentro destes princípios, será sempre uma criança saudável, preparada para as «competições da vida»...

Em concreto, os infantis «A» do Almada

Quando achamos que a nossa equipa é tão boa, tão boa, que devia estar já classificada para ir às finais do "mundial de infantis"... (discurso que já ouvi muitas vezes e que me enerva... sinceramente) estamos a cometer vários erros, na minha modéstia opinião:

1. Estamos a colocar pressão nos miúdos. Se lhes dizemos que são tão bons, tão bons que ganham tudo, sempre que começam a jogar e a coisa não está a sair bem... ficam frustrados, ficam nervosos, perdem confiança, ficam inseguros. Começam a acreditar que tudo vai correr mal... e quando assim é... corre mesmo mal...


2.  Se dizemos que a nossa equipa se não vencer o Trafaria ficará no Complementar e isso é uma vergonha, porque vai jogar com equipas fracas a quem ganhará por mais de 10... acho isso um ultraje, uma tremenda falta de humildade. Só quem não viu... o jogo contra o Monte... estivemos a ganhar 4-2... e o Monte a atacar mais que nós... não marcou mais 2 ou 3 golosnesta altura  porque não calhou... e depois felizmente entraram uns golos nossos e a coisa recompôs-se...  Mas esteve longe de ser um jogo em que o Almada mostrasse ser extremamente superior!  Ou seja. o meu apelo é... sejamos humildes...

3. Deixamos de permitir aos miúdos aquilo que deveria ser o mais importante: divertirem-se! Até porque se os miúdos entrassem em campo mais descontraídos, sem essa pressão do «ter que ganhar», tenho a certeza que jogavam muito melhor...

O prazer de ver bom futebol

Ganhar ou perder é sempre um factor de motivação ou não. Mas, para quem como nós, pais, - que somos um elemento externo, que não interefere (não deveria interferir) na competição - que estamos sempre a ver os jogos, o prazer de um bom jogo de futebol ultrapassa qualquer resultado. Ver uma equipa a jogar bem, mesmo que perca, é sempre uma satisfação.
Como sabem, a equipa de INfantis «A» do ano passado era mais fraca que a actual, desde logo porque tinha metade dos jogadores que eram do escalão anterior (casos do Santana, do Kardi, do Mário, do André Figueiredo, do Henrique, entre outros que foram embora) e perdiamos muitos jogos.

Mas fizemos grandes jogos.

Lembro-me particularmente do jogo Almada-Arrentela, que perdemos 6-3, em que fizemos um jogão daqueles... O Arrentela era o líder da série e nós eramos o penúltimo lugar, então vinham ao Almada mentalizados para dar 10-0 ou coisa assim... pois, ao intervalo, se não me engano estávamos a perder 3-2... e a atacar muito mais que eles. Enfim... deis este exemplo, porque foi daqueles casos em que acho que a nossa equipa esteve fantástica, mas perdeu... simplesmente porque o adversário era mais forte...


Ver bom futebol é igual a vitória?

Não, não é!

Há dois jogos, particularmente, em que, na minha modesta opinião, o Almada jogou mal... e ganhou por larga diferença. Contra o Charneca e contra o Monte. Dois jogos que viveram dos individualismos de alguns jogadores... isso para mim não é bom futebol!

Bom futebol foi o quê?

O Jogo contra o Beira-Mar! Essa primeira parte foi de encher o olho...
Gostei muito do jogo contra o Barreirense, no Barreiro, em que perdemos 3-2... foi um jogão! Gostei muito de ver a nossa equipa!

O jogo contra o Sporting em Pinhel... foi um bom jogo, gostei de ver! Bonito, a bola circulou muito, viu-se equipa!


É tão bom ver um bom jogo de futebol!

Na minha opinião, um dos melhores jogos de sempre da selecção portuguesa foi contra a Dinamarca em Lisboa, que perdemos 3-2.
Pois... perdemos!
O futebol é assim...

Mas fizemos um futebol, como nunca tinha visto!

O Benfica foi campeão pela última vez quando?
Bem, não me lembro do ano, mas foi com o senhor Trapatonni... que tinha aquela velha máxima, «se não puderes ganhar, pelo menos não deixes perder». 

Horrível. Vi esse ano vários jogos do Benfica, uma vergonha. Lembro-me de um jogo com o Nacional... em que marcámos 1-0 nos primeiros minutos... e estive na Luz a ver o Benfica a defender o resultado com uma equipa de meio da tabela... 70 minutos de massacre do Nacional... e o Benfica a segurar o resultado!
Prefiro o Portugal que perdeu com a Dinamarca...

Quando falamos de miúdos então... a minha frase é sempre:
«Levem lá a taça!!!» quero é ver bom futebol...

É só uma opinião!



SAUDAÇÔES DESPORTIVAS:
VITÓRIA PARA PORTUGAL NA BÓSNIA

e...

Que façamos hoje um grande treino contra o Amora (não interessa se perdemos ou se ganhamos... que seja um bom treino!)  e que tenhamos também um bom jogo contra o Trafaria sábado (não interessa se empatamos, se ganhamos ou perdemos! Que os miúdos se divirtam, sejam competitivos, sejam disciplinados, e dêem o seu melhor. É a única coisa que podemos esperar deles...)

Abraços!

JPF.