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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

As arbitragens

Apitar um jogo de miúdos não parece ser difícil.
Se os miúdos fazem frequentemente jogos treino e nesse encontros amigáveis, raramente é preciso apitar... basta deixar seguir o jogo, os miúdos percebem quando cometem erros, e são eles próprios a recuar quando fazem falta.

A maior parte das vezes os jogadores sabem ler o jogo. O Árbitro apita... e basta esperar uns segundos, e vê-se os da equipa do jogador que cometeu a falta a recuarem...  Com os foras e os cantos a mesma coisa.
É raríssimo os miúdos estarem a discutir se a bola bateu em último lugar num ou noutro miúdo...

Então se assim é... porque razão nos jogos vemos árbitros a apitar coisas em sentido contrário?

Sinceramente, isto faz-me muita confusão:

Quantas e quantas vezes não aconteceu a bola sair pela linha do fundo. Os que atacam começam a correr para as suas posições, recuando, os que defendem vão para os seus lugares para receberem o pontapé de baliza... e, surpreendentemente, o árbitro apita pontapé de canto...

Como é que isto é possível?

O senhor que apita é o único em campo a ver uma coisa que nem os próprios jogadores intervenientes na jogada viram???


Fico parvo quando vejo coisas destas., E infelizmente acontece com alguma frequência.

Faz-me lembrar aquela cena caricata, feita anedota,  no serviço militar. Está o pelotão a marchar, vem a ordem para «DIREITA VOLVER», vão todos para a direita, menos um instruendo que vira para a esquerda... A mãezinha desse rapaz está a ver na bancada e diz para a senhora do lado: «Olhe, enganaram-se todos. Só o meu filho é que virou bem para a esquerda...»




Depois, há a questão da violência. Qualquer pessoa que tenha jogado futebol, que goste de futebol, que tenha prazer em ver bom futebol, qualquer apaixonado pelo futebol consegue perceber que o futebol bem jogado, limpinho, não precisa de carga física. Quanto mais limpinho mais bonito.

(Um dia destes via na televisão um jogo do campeonato inglês, incrivel, a bola de pé em pé... futebol limpinho.. 5, 10 minutos de jogo sem se cometer uma falta... é tão bonito!!!)

Às vezes ficamos a pensar que há árbitros que são «ex-jogadores falhados», parece que têm dor de cotovelo, inveja, dos jogadores tecnicistas: «Eles são aquilo que eu quis ser e não consegui»... pensarão, incosncientemente.

É que parece que fazem tudo para prejudicar os melhores jogadores. Se há uma equipa com jogadores brutamontes, que empurram, que puxam, que dão encontrões... deixam seguir... como se fosse normal. E depois, os bons jogadores, esses que têm aquela técnica que traz toda a beleza ao futebol, quando se revoltam com a cacetada que levam insistentemente e começam a jogar também duro... aí já marca falta e até parece que vai a correr para os miúdos com raiva interior... Como se só os outros tivessem direito a jogar duro... Parece mesmo que estão a ajustar contas com o seu próprio passado!

E atitudes destas deixam uma pessoa revoltada. Lá fora, nas bancadas, os pais revoltam-se. Não deviam... mas é difícil conter tamanha revolta. De tão evidente que é a injustiça.

Temos visto árbitros destes (felizmente nesta série, este ano, têm sido mais os bons árbitros que os maus)

Depois há os "senhores". Aqueles árbitros que são tão bons, tão bons, que nem damos por eles. São estes os mais raros. Aqueles que só intervêm quando é preciso, e que quando é fundamental chamar a atenção não
deixam passar em branco um erro grave. São, de facto, raridades... tivemos um assim, no jogo contra o Beira Mar. Ainda lhe disse, quando passou por mim, «senhor árbitro, grande arbitragem. Parabéns!». Nem pestanejou o homem, seguiu em frente.
Certamente pensou que eu estava a ironizar. Na verdade, não estão habituados a ouvir elogios. O Normal é serem insultados em todos os jogos... infelizmente, os pais dos miúdos nem sempre vêm os jogos com a devida serenidade... exaltam-se e qualquer apito é razão para insultos.


 Depois há ainda os meticulosos, aqueles que se fixam no pormenor. Que estão focados em ver se o treinador saiu do espaço permitido, se a bandeira de canto está no sítio certo, se as malhas da baliza estão bem presas, se o jogador tem a camisola metida para dentro dos calções... enfim... mariquices laterais ao desporto...  são coisas que fazem parte das regras, mas que não influem no espectáculo.
Estes árbitros obcecados no pormenor são, para mim, os piores. Porque afinal estão a apitar um desporto onde o essencial é o espectáculo, e o árbitro deve garantir que se faz dentro das regras... mas o senhor está mesmo focado é nos pormenores...

Há depois os preguiçosos. Aqueles que não se mexem. Estão sempre longe das jogadas, avaliam mal porque necessáriamente vêem mal as jogadas de tão longe que estão.  Assinalam foras-de-jogo que não existem, marcam cantos mal marcados, assinalam faltas que não existiram.


 Acredito que ser árbitro não é fácil. Mas como em tudo na vida, as pessoas devem procurar empenhar-se naquilo que fazem. Se estão a fazer um frete, dêem lugar a outros. Se não gostam de futebol... apitem outro desporto que gostem. Se não percebem a essência do futebol, tentem aprender, tentem perceber a beleza do futebol, tentem ajudar ao bom espectáculo. Se gostam de ser o centro das atenções, dediquem-se ao teatro, ao circo, ao cinema. Se são preguiçosos, aprendam a respeitar o esforço dos outros, tentem compreender que há ali miúdos que se estão a esforçar muito para conseguirem um bom espectáculo. Se são perfeccionistas e ligam demasiado ao pormenor, dediquem-se às engenharias.

O árbitro é parte integrante do espectáculo que é o futebol. Assim como os jogadores se dedicam, treinam 3 vezes por semana para melhorarem o seu desempenho, os árbitros também deviam aplicar-se e dar o litro em campo. É uma questão de respeito pelo outro!
Não é honesto haver uma só pessoa a estragar um espectáculo que está a ser dempenhado por cerca de 20 miúdos...


Quanto aos erros. Aqui sou radical.
Todos erramos. Não há superhomens. Só no cinema. Na vida real erramos. E só não erra quem não faz nada.
O erro é normal, é aceitável. Estava a olhar para a colocação de um jogador e não viu a falta, ou olhava para um jogador e não viu bem em qual é que bateu antes de sair a linha. É normal. Acontece. Um árbitro que erre 4, 5 ou 6 vezes num jogo... é normalíssimo.

O que é estranho é quando o árbitro erra 6, 8 ou 10 vezes... sempre a favor da mesma equipa! Aí, meus amigos... estamos a  violar a regra das probabilidades. Aí é quase como ganhar o Totoloto... seria uma tremenda coincidência os erros serem todos a favor da mesma equipa...


Há depois os árbitros que têm sentido de equidade, e a humildade suficiente para perceberem que erraram.
Tomou uma decisão da qual não estava totalmente seguro de que estava correcta, e ao perceber as reacções de jogadores e público reconhece que tomou uma decisão errada. Não pode voltar atrás. Porque o futebol é mesmo assim. Mas numa jogada posterior força nova decisão errada, mas esta consciente, mas a favor da equipa penalizada na jogada anterior. Quer compensar pelo erro cometido!
Nem sempre gosto de ver estas «compensações», mas admito que ter o sentido da equidade e a humildade para reconhecer erros são grandes qualidades que devem ser exaltadas.


Há aqueles árbitros, como este último que tivemos no jogo contra o Trafaria, que têm um sentido pedagógico, têm a perfeita noção que são eles os líderes desta prova desportiva, e são eles que têm de chamar a atenção a miúdos que não tiveram comportamentos correctos. Assumem o papel de educadores, chamam os miúdos e explicam: «Olha, não devias ter feito isso. Não é correcto. Pede desculpa ao adversário e diz-me que não voltas a repetir esse jogo feio!»

É bonito ver. Infelizmente, são poucos os árbitros a agir assim. A maioria trata os miúdos como se fossem jogadores profissionais.  Como a senhora que apitou na Costa. Jogadas violentíssimas... e a senhora não dirigia nem uma palavrinha ao prevaricador... como se fosse normal. Como se assinalando a falta bastava. Como se os miúdos não devessem ser avisados para não jogarem feio. Como se fossem adultos. Ainda para mais em jogadores reincidentes.


Concluíndo, apitar não é certamente fácil... mas tal como há miúdos que nasceram para o futebol, e têm capacidades inatas, também há árbitros que nasceram com qualidades para apitar... e outros não! Outros nunca saberão apitar... mesmo que, através de amizades, cunhas, isto e aquilo... cheguem ao topo do futebol... só assim se explica que sejam inúmeros os casos de árbitros que se deixaram subornar... só alguém sem coluna vertebral, sem ética, ganancioso, aceitaria ser tendencioso para receber algo em troca numa actividade em que o dever é ser imparcial, ser neutro, ser um juiz... ser justo!



E termino contando uma história, que muitos dos pais da equipa do Almada conhecem, pois foi contada num jogo de treino por um senhor empresário que não vou nomear:

A equipa «x» estava bem encaminhada na Taça de Portugal. Equipa da terceira divisão, já passara 3 eliminatórias, e agora recebia uma equipa da primeira divisão em casa. «Bem, se ganhássemos este jogo, passaríamos a ser a equipa surpresa do País, éramos falados em todos os jornais, vinham os jornalistas à nossa terra entrevistar, era o sucesso da nossa pequena equipa», conta o presidente do clube.

Dias antes do encontro, soube-se qual era o árbitro que ia apitar o jogo na pequena terreola de interior. O  senhor «A», presidente do Clube, ficou de olhos a brilhar quando soube o nome do árbitro nomeado: «Olha, é o árbitro amigo do presidente do grande clube «X», está no papo, com um bocadinho de sorte ganhamos à equipa «Z» da primeira divisão»

Bem, chegou o dia do jogo. O senhor «A» está no campo, e dizem-lhe que o árbitro já chegara e queria conversar com ele.
- «Peguei numas notas valentes, meti no bolso, com um bocadinho de sorte, a coisa resulta», diz

Começaram a conversar, andando em volta do recinto desportivo, quando aparece o presidente da Associação de Futebol do distrito. «Estou lixado... este agora vai lixar-me o negócio».

Bem, a verdade é que estragou mesmo. Não conseguiu dar o dinheiro ao árbitro, e lá começou o jogo.
A equipa lá perdeu por vários golos, como era normal.

Terminado o jogo, o árbitro vai despedir-se do senhor «A» e diz-lhe ao ouvido: «Não ganharam o jogo porque não quiseram...»

Ou seja, não chegou a haver corrupção, porque uma pessoa se atravessou no caminho ocasionalmente. Mas podia ter havido um «arranjinho»...

É triste não é??

 
ABRAÇOS
JPF.

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